LEANDRO COLON
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
Galeguinho nunca saberá, mas virou o proverbial bode expiatório. Um dia
depois de a Folha revelar o cenário simplório da sede da Bonacci
Engenharia, que assinou R$ 6 milhões em contratos públicos em cinco
anos, sobrou para o caprino.
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
Desde ontem, o bode Galeguinho não desfruta da eventual sombra da varanda da sede da empresa, que ele "guardava".
A Bonacci ganhou notoriedade como destino de verbas de emendas do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), favorito à presidência da Câmara.
O bode foi despejado do terreno baldio que cerca a modesta casa onde a Bonacci é registrada, tendo como um dos sócios Aluizio Dutra, assessor do deputado PMDB até segunda, depois que a Folha revelou a relação com o dinheiro levantado pelo chefe.
A reportagem voltou ontem ao local e encontrou Galeguinho amarrado numa árvore, na mesma rua, ao lado de um chiqueirinho de galinha, a poucos metros da Bonacci.
Recebia migalhas das crianças e moradores. Entre eles, sua dona, Maria da Apresentação da Silva, 50. É mãe de cinco filhos. "Galeguinho é o sexto, o caçula." O bode foi parar na árvore porque ela diz ter recebido, anteontem, ordem para tirá-lo do terreno da Bonacci.
Não entendeu os motivos nem sabia que tinha saído algo publicado no jornal. "Pediram para tirar", resumiu.
Bode Galeguinho
Leandro Colon/Folhapress

Bode 'guarda' empreiteira de fundo de quintal de ex-assessor do deputado Henrique Alves que recebeu R$ 6 milhões
Galeguinho, sem casa, agora passa o dia na árvore. À noite, disse Maria, ele seria abrigado em sua casa. "Vai dormir lá com a gente. Amanhã [hoje] vou dar um banho para ele ficar bem limpinho. Ele é um sucesso, né?", diz a dona. "Come farelo, milho, de tudo." A idade dele ninguém sabe. "Ele cresceu muito, veio bem pequeno."
Além do bode, um outro detalhe mudou na empresa: foi colocada uma espécie de adesivo branco no alto da porta da frente, com a expressão "Bonacci Engenharia". Até terça, não havia identificação. A casa é pequena, cercada pelo terreno baldio.
Os donos da Bonacci negam que seja de fachada. Afirmam que ela funciona e participa de maneira legal das licitações para as obras.
Além de emendas parlamentares, a empresa recebeu dinheiro do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, controlado por Alves. Auditoria da Controladoria-Geral da União aponta desvios nos contratos, o que todos negam.
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